Um dos peludos

Um dos peludos
Faraó

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Um conhecido pé de meia

O velório transcorria normalmente. Ou seja, a viúva com a cabeça abaixada, um lenço à boca e por vezes nos olhos. O caixão no meio com o falecido todo "enternado" e engravatado. Do outro lado algum amigo mais próximo fazia o sinal da cruz e mexia os lábios como a rezar. A sala tinha o cheiro característico das flores, daqueles que nunca nos esquecemos e fica durante dias na casa do morto.
Lá havia grupos de parentes, amigos, vizinhos e até de curiosos que se movimentavam de lado a lado. Fosse para um café com bolacha maria ou bater uma birita já que ninguém é de ferro, o deslocamento se dava sempre entre a sala do morto, a cozinha e o jardim em frente à casa. Uns falavam de que era bom, outros comentavam as artes que fazia e outros contavam piadas. Risos abafados por vezes se ouvia e de vez em quando um chôro menos contido, na chegada de mais um ou uma amiga. Lá iam alguns ver o comportamento do recém chegado, talvez na esperança de que um fuzuê se iniciasse. Vai que a donzela recém chegada fosse uma outra viúva do mesmo falecido! Que nada! Nada disto aconteceu e a noite já estava quase partindo em busca do novo dia quando chega o Osvardo. Era assim que o chamavam. Se aproximou da viúva, abraçou, beijou na testa e segredou algo que se imaginou ser os pêsames. Virou-se em direção ao caixão, colocou sua mão sobre as mãos do morto, ainda amarradas por uma atadura de crepe e se pôs a chorar. Passados os minutos de uma eternidade de choro, se aproximou do rosto como que para beijá-lo, parou subitamente e disse em alta voz: Mas este aqui não é o Jardel. Nem aqui nem na China! Viúva em pé, corre-corre de convivas em torno do caixão. Como não? pergunta a Madalena, amiga da família. Ele estava doente "dos fígado" e por isso está com esta cor estranha! A viúva tenta por ordem e diz que ela é quem foi ao IML reconhecer o cadáver. Ele tinha saído de casa no final de semana, como de costume, ficara fora vários dias e tinha sido encontrado morto na rua. Fora levado ao IML para necrópsia. Localizados os familiares a viúva fizera a identificação e lá estava o Jardel sendo velado. Como então o Osvardo estava questionando a identidade do morto?  Quando a cena estava quase por acabar, chega uma viatura do IML para informar que o morto que ali estava na verdade era de outra família e que o desta casa era um homem branco. Esclarecido que tinha ocorrido uma troca de cadáveres, entre um branco e um afro-descendente, a viúva foi então questionada. Como poderia ela ter reconhecido o marido morto, se agora se percebera que o dela seria branco e não pardo. Aí vem a surpresa. Ela esclareceu: Quando eu estava lá no necrotério o rapaz me mostrou vários cadáveres que estavam sem identificação e quase morta de medo, reconheci o Jardel pelo pé de meia que o defunto usava.
Esclareço - Naquela época o IML ainda não fazia confrontação imediata das impressões digitais de todos os mortos com as respectivas carteiras de identidade, para só então liberar os corpos. Algumas vezes a identificação era feita somente pelos familiares.

domingo, 28 de março de 2010

Um cadáver... diferente

Num boteco da periferia de Curitiba, nos idos dos 80, após a bebedeira e um jogo de cartas, uma briga começa. Sururu montado, alguns do grupos dos "deixa disso" assistindo e outros se afastando, enquanto dois homens se ameaçam; Em segundos se engalfinham e, já fora do recinto, em plena rua de macadame poeirento um deles consegue atingir seu desafeto com um certeiro golpe de arma branca e o fere mortalmente. O caído se agita um pouco e morre. Polícia chamada, ninguém viu, ninguém sabe nada, exceto que um cadáver está ali naquele chão ensanguentado. O assassino, que matara em legítima defesa, já tinha se "pirulitado". Sei lá se seria ou foi localizado. Depois dos peritos do Instituto de Criminalística terminarem a perícia do local, chegou a vez do IML atuar; chega a viatura do IML - dizem camburão - com motorista e um auxiliar. Com esforço colocam o cadáver no gavetão branco, já meio descascado e ainda com marcas do caso anterior e o levam para o necrotério do IML. Médico legista é chamado e junto com o auxiliar de necropsias começam o exame. O auxiliar dita e o médico também ao lado da mesa, vai anotando na ficha apoiada numa prancheta. Homem branco, olhos castanhos, cabelos pretos, dentes em regular estado de conservação. Jaqueta de napa preta, camisa de tecido sintético com estampa do Corinthians, com grande mancha de sangue na região do coração, meias pretas e botina preta; Ao se preparar para baixar a calça do morto até os joelhos percebeu que o morto devia ser "bem dotado" e continua o ditado  - Cueca branca, tipo sunga. O auxiliar interrompe a descrição, olha para o médico e comenta: poderoso hein doutor? A cueca  estava esticada pelo volume do pênis, que parecia estar em ereção e pelo visto seria classificado como dos maiores já vistos. As roupas íntimas somente são retiradas posteriormente. Tirada a jaqueta, o legista vê um rasgo na camisa que coincide com a região do precórdio (face anterior do tórax e do coração) de onde ainda flui um pouco de sangue, A pontaria tinha sido boa e provavelmente a faca teria penetrado no coração. O auxiliar corta a camisa pelo lado direito para retirá-la sem prejudicar a perícia que ainda se fará no Instituto de Criminalística. Surpresa. O cadáver tem mamas de aspecto feminino, não grandes porém maiores que as da maioria dos homens. Homens podem ter mamas grandes: obesos por lipomastia (mamas com mais tecido gorduroso), homossexuais por uso de hormônios, os portadores de cirrose hepática por alteração no metabolismo hormonal, enfim há homens peitudos. Deteve-se o doutor a estudar o ferimento, que realmente atingira em cheio o ventrículo esquerdo do coração e tinha 3,5cm de extensão. Não haveria chance de qualquer atendimento médico para a vítima pois em três ou quatro batidas do coração, a cada sístole (contração cardíaca) pelo ferimento seriam ejetados 250 a 300ml de sangue ou até mais, resultando em rápida baixa da pressão sanguínea e queda ao solo. Para continuar o exame o auxiliar retirou a botina, as meias e a calça cortando-a pelos lados para facilitar. Cortou os lados da cueca e ao tracioná-la para baixo, veio junto o membro viril de tamanhas proporções. Assustados, legista e auxiliar, viram que o pênis nada mais era do que uma prótese artesanal feita com um pé de meia, preenchida por outros pedaços de pano. (me lembrei das bolas de meia com que, quando infantes, jogávamos futebol). E o tal cadáver tinha vulva, vagina, mamas femininas etc. Era um falso homem, com falso pênis, vivendo uma falsa história porém com morte verdadeira. Souberam depois que o companheiro morrera e necessitando trabalhar assumiu a identidade do marido numa empresa de serviços gerais. Se travestira de homem em função do salário maior e para vingar a morte do marido; Passou a frequentar os mesmos ambientes que o seu falecido na esperança de encontrar quem o matara. Encontrou outro, que a matou. Triste fim de uma lutadora e de um pênis que poderia ser o maior, se não fosse ....de meias.

sábado, 13 de março de 2010

quase morta... de susto (in memoriam)

Como médicos residentes, era comum trabalharmos até altas horas da noite para vencer o serviço. Ninguém atrapalha a concentração e o trabalho rende. Naquela época, no HC-UFPr. não tínhamos auxiliares de necrópsias em plantão noturno e isto obrigava aos enfermeiros de qualquer das clínincas, a deixarem os cadáveres no pequeno corredor de acesso ao Serviço de Patologia, local ermo, escuro e sem trânsito. Lá ficavam os corpos até a manhã seguinte, quando então eram colocados na sala de autópsias e em seguida examinados. Como trabalhávamos até tarde da noite, ao descer para a ceia no refeitório era hábito olharmos quantos cadáveres estavam no corredor e de onde vinham; assim nos preparávamos emocionalmente para a escala de necrópsias, já que era em forma de rodízio. Uma noite após o lanche a colega resolveu voltar à sua mesa e lá permaneceu até quase duas horas da madrugada. Tinha sido um dia de muitas reuniões e o serviço se acumulara. Venceu-a o cansaço e então foi apagando luzes, fechando portas, desceu a escada já no escuro e caminhou como sempre fazia; há anos era sua rotina e conhecia cada palmo de chão daquele labirinto isolado do corpo principal do hospital. Nas noites, por lá ninguém circulava pois era da "Patologia"  e ninguém queria encontrar algum finado perambulando. Era quase um beco. Enquanto caminhava ia pensando nas biópsias que teria que descrever, citologias para ver, artigos ainda por ler antes das reuniões, laudos, fotos etc. Dobrou à esquerda, à direita, novamente à esquerda e direita e, na penumbra lá estavam três macas com cadáveres. Cobertos por lençóis e certamente cada um com sua etiqueta de identificação no braço, mostrando o seu nome e a clínica de onde vieram. Eram da neurocirurgia, clínica médica, clínica cirúrgica ou qualqer outra. De avental de brim branco, longo e de mangas longas com amplos bolsos, lá descia ela com uma bolsa no ombro direito. Havia discreta luminosidade vinda do corredor da emergência e que insistia em passar pelas frestas da grande porta, tipo bar de faroeste (duas folhas vai-e-vém). Se aproximou da primeira maca, tirou a mão esquerda do bolso, levantou a ponta do primeiro lençol. Descobriu o rosto, homem magro, cabeça raspada e com curativo; virou o braço e na etiqueta .... neurocirurgia. Certamente seria autopsiado, era protocolo da clínica. Quatro passos, levantou o segundo lençol.  Mulher, idosa e obesa, na etiqueta ... clínica médica. Talvez infarto e quem sabe seria entregue à família sem autópsia. Três passos a mais, ajeitou a bolsa que do ombro havia descido, levantou a ponta do cobertor, puxou o braço do falecido para ver a etiqueta e.... a maca se agita, o cobertor se eleva, um grito de mulher, uma bolsa arremessada ao chão e o cadáver ainda coberto pelo pano escuro, levanta e diz com voz grossa - opa ! que é isso; O desespero toma conta dela, as pernas tremem, mas não param de correr conduzindo seu volumoso corpo pelo escuro corredor da emergência.... e o cadáver atrás, apressado e já sem o cobertor. A primeira parte do corredor era da pediatria, depois o de adultos. Assustados pelos gritos, acendem-se as luzes e os plantonistas saem para ver o que se passa. Todos a ouviam mas ninguém a entendia pois estava lívida tanto quanto o avental e com o terror estampado na face. O tal cadáver havia parado em frente à pediatria. Ouviram então  - como está meu filho?  Pobre homem, cansado e agora apavorado; o fato - enquanto seu filho ficara sendo hidratado na emergência da pediatria, ele tomou emprestado um cobertor e se deitou na primeira maca que encontrara naquele escuro corredor. Mal sabia ele que dormiria ao lado de dois cadáveres e, que alguém o acordaria na madrugada, puxando seu braço,  assustando e o fazendo pular da maca ainda enrolado no cobertor. Imediatamente pensou que algo de ruim teria acontecido com seu filho. Correu para saber notícias e não entendeu nada do que acontecia no corredor. A doutora., caso não tivesse sofrido acidente muitos anos depois desta cena e, se ainda estivesse entre nós, poderia nos relatar o que sentiu naquela última madrugada de trabalho, já que nunca mais ficou até tão tarde. Certamente teve aquela sensação dos pelos querendo sair dos poros e um arrepio gelado percorrendo a espinha da cabeça aos pés, que nos deixa feito menir.

segunda-feira, 8 de março de 2010

amigos são para estas coisas

Conhecido não, amigo. Ele era representante de laboratório de produtos farmacêuticos. Trabalhávamos no HC-UFPr. Ele representando e eu também ... no papel de professor. Éramos amigos. Somos amigos, mesmo que o tempo e a distância nos tenha afastado. Entrou na minha sala e disse: Preciso de um favor teu. Como posso ajudar, de pronto respondi; até porque não era ele homem de pedir favores. Meu pai faleceu e está sendo velado no Cemitério Municipal. Imaginei que precisava de intercessão junto a alguma funerária - algumas delas atendiam os funerais no HC e quem sabe baixassem o preço, se eu conversasse. Para surpresa ele pediu que eu fosse até o local do velório. Como assim meu amigo? Com todo respeito, fico triste por você mas não conheci seu pai. Te conto... falou ele num tom meio que de receio, um misto de vergonha e medo: meu velho pai há anos me disse que tinha medo de ser enterrado vivo e me pediu para que eu não permitisse esta situação. Como a morte foi súbita, sabe como é, estou preocupado. Onde eu entro nesta questionei ainda sem perceber como ajudá-lo. Quer que façamos necrópsia? Basta trazê-lo (não quiz dizer cadáver, afinal era o pai dele.) e em pouco tempo tudo estará resolvido. Não, não, há muita gente na sala e minha mãe não vai aceitar. Até porque ele ainda está quente. Eu gostaria que você fosse comigo até lá e fizesse algum exame que pudesse comprovar a morte. Quem sabe cortar os pulsos, auscultar o coração, colocar espelhinho na frente da boca (me contorci para não rir pois lembrei daqueles redondos com imagens da Nossa Senhora Aparecida ou de mulher nua vendidos em lojas de bijuterias). Pedido de amigo aflito é ordem e lá fomos nós. Fomos os três. Eu, de roupa branca, o órfão de pai e minha maleta de médico. Ao chegar no recinto, as pessoas se afastavam tal como as águas do Mar Vermelho frente ao comando de Moisés a caminho da Terra Prometida. E nós caminhando em direção ao finado. O cheiro de velas, flores e perfumes variados preenchendo todos os recantos das narinas. Na cabeceira, a idosa com véu preto sobre a cabeça e rosário na mão esquerda , junto às duas alianças e que me era apresentada como... mamãe. Não estava de óculos escuro pois não eram ricos. Depois do beijo e o tal - aceite meus pêsames - disse a ela sobre a solicitação do filho, que com voz embargada foi reiterada por ela. Tudo se fazia para atender ao desejo do que já partira. Peça aos presentes que se retirem por alguns momentos para que possamos fazer o exame, disse eu, não sem usar da autoridade de perito. Foram saindo e olhando para trás, quem sabe procurando ver espirrar sangue ou um grito do ressuscitado. Fecharam as portas. Enquanto o dileto filho retirava as centenas de cravo de defunto (flor amarela e com cheiro forte) que recobriam o corpo, deixando de fora somente as pontas dos pés com meia de seda preta, eu toquei as mãos e a cabeça notando a baixa temperatura e a palidez, indicativas de morte há algumas horas. Pressionei os globos oculares, que nitidamente já não tinham mais a consistência dos vivos, pois a falta de irrigação sanguínea os deixa com baixa pressão. (pressione delicadamente os seus e se estiverem firmes, é sinal que estás vivo caro leitor). Abrindo-os notei que as córneas já não tinham mais brilho, aquele do qual provavelmente a viúva sentiria falta. Outro sinal de morte já presente. Já sem as flores, o terno preto do tipo risca de giz, de provável compra na Casa Globo deixava ver que tinha compleição atlética. Grande e robusto, suficiente para que os amigos cansassem para carregá-lo até a última morada. As mãos cruzadas sobre o peito, alvas e ainda presas com um lenço listrado em bordeaux, Presidente, que nunca fora utilizado pois tinha vincos bem marcados. Fiz muita força para tentar mover os braços e depois dobrar os joelhos. Tudo em vão. Estavam endurecidos há longo tempo. O que chamamos de rigor mortis - endurecimento da morte estava ali para garantir que do pai do amigo só restariam lembranças. Não cortei nada, ninguém gritou (o que foi bom!) e no retorno dos familiares e amigos, antes mesmo da viúva que havia aproveitado para descansar da noite mal dormida, os olhares se entrecruzavam tranquilizadores de que agora o definitivamente defunto poderia ir para sua tumba. Não acompanhei o féretro, só por garantia, para não correr o risco de vê-lo levantar-se do caixão na hora da despedida, já na boca da sepultura. Saí meio de fininho, eu e minha maleta, que nem fora aberta. Amigos são para estas e... outras histórias.

domingo, 7 de março de 2010

Era uma vez... um cérebro vagante

Hoje, enquanto caminhava pelas sinapses neuronais, encontrei um fato já relatado inúmeras vezes e que conto estreando neste mundo que acreditava nunca participar. Lá nos idos 70 estava eu como chefe da sala de necrópsias do HC-UFPR e no final de semana não recebi chamado para orientar residentes em autópsias (era comum nos chamarem nos finais de semana). Na segunda-feira cedo perguntei ao auxiliar de necrópsias se tinha ocorrido algum problema ao que ele protamente disse: Não senhor. Só veio uma mulher devolver o cérebro mas como eu não sabia de nada, não aceitei. O quê ? Como assim? Devolver um cérebro? É dotô, veio uma mulher de bicicleta com um pote no bagageiro querendo devolver o cérebro da mãe dela. Eu não recebi. Eu f'iquei passado, atordoado, sei lá . Tudo girava ao meu redor. Conversando com ele consegui entender em parte o ocorrido. Uma senhora idosa falecera alguns dias antes. Por orientação clínica fora solicitada a autópsia e, dado a avançada hora do óbito, o cadáver ficou na sala de autópsias para ser examinado no dia seguinte. O plantonista da noite do óbito permitiu (na santa inocência) que a filha permanecesse em velório solitário ao lado da falecida. No dia seguinte a morta foi autopsiada e o cadáver foi entregue à familia, enquanto as vísceras ficaram para exames, como é de praxe nos hospitais ligados a escolas médica. Procurando continuar a esclarecer os fatos da tentativa de devolução do cérebro, descobri o nome e o endereço da filha e fui à casa. Me identifiquei na chegada, fiz perguntas, respondi algumas e então entendi tuodo o ocorrido. A familia era espiritualista. A filha retornara ao hospital alguns dias depois do óbito para "buscar" as vísceras que deveriam ser inumadas para só então o espírito da mãe poder se libertar da encarnação concluida. Perguntei sobre o tal cérebro, como conseguira, onde estava, expliquei os aspectos médico-legais do transporte e guarda de vísceras humanas , enfim alguns minutos se passaram.  Ela, a filha é claro, abriu a geladeira da casa e para minha surpresa, não fora a berta para me oferecer um copo d'água, mas sim para retirar um pote plástico com um encéfalo imerso em formol. E o pior, nem era o da mãe dela . Conclusão e confusão - a filha não ficou sentadinha ao lado da morta durante a noite e andou pela sala onde viu potes com cérebros que ainda não tinham sido estudados (necessitam de formolização mais longa); então o auxiliar de autópsias da noite do óbito, alguns dias depois, em concordância com a espiritualidade e com medo de possíveis encontros com a extinta,  entregou à filha um cérebro para ser enterrado. Chegando em casa ela viu no rótulo do pote que não eram os miolos da finada mãe. Demorou alguns dias enquanto buscava um meio para devolvê-lo. Sua tentativa foi frustrada pelo outro auxiliar. Ficou apavorada quando não o pode fazer. Final da história: Levei o encéfalo para o HC e, dois dias após devolvemos as vísceras já examinadas, incluindo o cérebro correto é claro , para que fossem enterrados e assim o espírito fosse enfim liberto. Eu é que não ia querer alguém a me puxar os pés em busca do que lhe é de direito. Eu heim, muito menos morta .